Breve chegará um tempo
em que já não bastarão mais
as coisas supérfluas e intangíveis.
Um tempo em que voltaremos
a amar o outro e notaremos
que sozinho é difícil demais.
Um tempo em que, por instinto,
notaremos a falta do contato,
do olfato, a falta do ato.
Um tempo em que notaremos
a falta dos afetos, dos detalhes,
a falta de algo pelo qual a vida vale.
Um tempo em que apreciar
o doce sabor de uma fruta
será, de novo, razão para sorrir.
Um tempo em que essa
velocidade toda nos ultrapassará
e ficaremos felizes em ficar para trás.
Chegará um tempo em que
cansaremos da lógica tal como está
e depois disso reaveremos uma parte de nós.
Esse tempo, será quando o tempo do Eu
ruir por si só, que de tanto si, ficou só
e agora, de tão só, vai virando pó.
Um pó que vira lama quando molha,
a lama de onde nasce tudo, quando chora,
e que renasceremos dali.
Esse tempo que virá,
no tempo que levar,
trará um novo tempo
a cada um que o seu tempo
próprio presenciar.
Uriel Cordeiro
22/09/2022