sábado, 13 de fevereiro de 2016

O ralo

Num banho desses longos
água fria em meu corpo
que se desmancha em cada gota
desfigurando o Meu rosto
Certo instante o ralo despertou
sussurrou meu nome
Transbordou a água que por ali
escorria
Me chamou.
A água ia cobrindo meu pé
a voz do ralo, leve, mas incessante
chamava-me.

O ralo me chamou
para morar em seu interior
para descer no seu rio de canos
onde as encostas são feitas da sujeira,
da nossa própria sujeira
aquela da qual nos livramos...

A água subia, feito tromba d'água
de tão rápido... Ou o tempo estava
desconfigurado pra mim.
Mas subia e queria me transformar
em líquido, para viver no ralo.

O ralo é frio, escuro, sujo
esconde a parte que não
aceitamos.

Ora, ora... Todos temos
um pouco de ralo
é raro aceitarmos o nosso ralo
aquele pequeno buraco n'Alma
onde derramamos a parte que
não queremos de nós mesmos
Por isso, nessa encarnação
haverá sempre um lugar ''menos limpo''
em cada um de nós.

O meu ralo me chama, não sei se quero
morar lá...


Uriel Cordeiro

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Aval a carne

Nesse tempo onde a carne
é o intento
Os homens se fazem primitivos
acham para todos os lados motivos
de serem algo grotesco, ou seria o natural?

É tempo de carne, pele, prazer
que deixa todos meio sem saber


Agora, eu, eu não sei
confundo todos os mundos com o meu
ora penso ser um mundo
ora me vejo no mundo
mundo que não é meu
mundo que sumo, pertenço a tudo
 volto, cabisbaixo, sem entender
se me perdi na trilha
ou se a trilha só levaria a isso

É carne, Deus dá o aval
é carnaval.


Uriel Cordeiro

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Ando pelos cantos
sem muita atenção
atolado nos velhos prantos
que há nessa encarnação

Tropeço nos meus olhos
caio das suas lágrimas
em uma banheira repouso de molho
Até sucumbir a pele e jaz

Já sinto que jaz
extirpou-se todo o felling
and conection
entre nós apenas soa
    OM

Ando pelos cantos
sem saber que devo chorar
chorar os velhos prantos
até ao aqui chegar.


Uriel Cordeiro

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Nasce de manhã
sempre um novo homem
pela tarde surge uma criança
a noite eis a fera

O ser, a alma, o Eu
a coisa única que nos é dada
que não passa apenas do Eu
Se mistura com um, dois, três, mil
Eu's

Buscar a unidade, o fim das divisões
Ser vento, murmurio do rio
onda do mar, ser pedra, água
ser bicho, árvore, ser de tudo
enquanto, ainda, é um

Ser um formando o uno.

Minha alma, quando a vejo
em meus sonhos, iguala-se
a uma cidade, onde tudo existe
mas ainda é, no fim, uma só coisa.


Uriel Cordeiro