segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Gosto muito de ver os pássaros,
que passam aos montes voando
formando no céu um triângulo,
indo para um lugar desconhecido.

Da janela passam os pássaros,
passam os carros, as gentes
a vida toda passando,
enquanto da janela
sonho um dia ir embora
com aqueles pássaros.

Que passam
passam
           passam
                       passa
                                paz
                        passa
            passar               
pássaros

Sempre passam os pássaros
que voaram além dos montes,
além dos mares, a frente dos ventos
em todos lugares.

Um dia eu vou voar com os pássaros
para alguma lugar que eu possa,
depois de o mundo todo voar,
finalmente repousar.

Uriel Cordeiro

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Meu cerrado é mais perto do céu,
o cerrado é tão lindo meu Deus.
Salve esse lugar, lugar onde nasci
Salve a natureza linda de Piri.

Morro dos Pireneus,
Chapada dos Veadeiros,
festa do peão e do boiadeiro,
Meu Goiás é tradição, é Divino, é terreiro.

Tem de tudo no coração do Brasil,
salve o nosso cerrado que tudo dá,
salve o pequi, salve a gueroba,
salve o caju e o jatobá.

Salve as águas de Goiás,
Rio Tocantis, rio Corumbá,
rio das Almas é demais,
lá que eu quero me jogar.

Lá é mais perto do céu,
foi lá que nasceram minhas asas.
Lá as terras são secas,
foi lá que brotou minha essência.

Em Goiás sou planta nativa,
filho de uma cidade tão cativa,
de gente especial e festiva,
que leva a vida plena e resistiva.

Goiás, todos, de si,
quando conhecem,
acham um pouco mais...

Ainda volto pro meu Goiás.


Uriel Cordeiro



domingo, 14 de outubro de 2018

Há sentimentos enterrados,
como sementes de um inço
que invade todo o cultivado
e Eu em meio a tudo isso...

Sentimentos enterrados
nas entranhas do viver
que nascem assustados
sem eu nem perceber.

É um solo fértil que há,
são terras cultivadas
por índios e lobos,
coivaras do meu peito.

Nascem sementes e sementes
nasce o inço, nascem os viveres.
Nasce até o passado
como se sempre tivesse ali
guardado, ruderal.

Há sempre sementes no solo
Como sempre haverá chuvas
Sempre haverá Sol
Haverá sempre Sentimentos.

Uriel Cordeiro





quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Um dia dormi com a poesia
e acordei poeta,
Como acordar dentro de uma onda
depois de ter sido mar

É a criação que vem primeiro
nesse espantoso jardim,
onde cresce no canteiro
a poesia sem fim

Um dia plantei rabanetes
e acordei agricultor,
sentado em um cavalete
vi mais de perto quem eu sou

Como uma árvore que chegou
na parte mais alta da floresta
e se enxergou somente
quando viu tudo o que resta

É de tudo que se faz a Alma,
uma rede que sustenta o Eu,
do caos natural à calma
não há nada que seja só meu.


Uriel Cordeiro

domingo, 2 de setembro de 2018

Mistérios do amor


Flores que caem sem ser vistas,
vôos invisíveis, sentir e sentir.
Corredeiras de rio, coração desliza
nas ideias mais lindas do existir.

O amor é um grande mistério
como voar pela primeira vez,
como sair em busca de mel,
como achar um lugar ao sol.

Um impulso natural que move,
move os músculos, os passos,
move montanhas, move o laço
move tudo que aqui faço.

Mistérios do amor, correm os rios,
crescem as mudas, surgem as flores
nascem e emergem sentimentos
que renasceram das dores.

Setembro traz a primavera,
chove lá fora agora
será que nascerá a flor
que o inverno me deu para plantar?


Uriel Cordeiro


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

É engraçado
como pode ser
tão intenso
e desgraçado

Um sentimento
amedrontado
que no interromper
da fala, acaba por ser
atropelado, e fica ali
sem ter sido expresado
nem ter sido tocado

E ficam dois ali
sem se sentirem
sem se tocarem
querendo só falar
só dizer sem pensar
o sentimento sem base
sentimento guardado
com medo de ser rejeitado

É engraçado como isso
atrasa a alegria de uma vida.


Uriel Cordeiro

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Cada um é um detalhe
que se expressa na pele
o retrato de uma alma
que aparece nos olhos

que brilham quando
aparece o homem
sorrindo, penteado
belo

Cada curva eu vejo algo
algo novo que brilhou
no reflexo do retrovisor
um momento único
se espelhou diante
da minha visão
a vida aconteceu

um detalhe de mim
sou eu.

A flor deitada no piso
voou do ipê lá da rua
deitaram no meu caminho
flores rosas semi nuas

Cada detalhe uma vida
cada vida um universo
e por ai vai, como num
verso infinito
de rimas mirabolantes

é esse o viver
é essa a vida
é assim que acabei de ver.

Quem sou eu quem sou você?


Uriel Cordeiro

quinta-feira, 21 de junho de 2018

A noite diz sempre mais
acordado, madrugada
os ponteiros já se perderam

lá fora as Almas correm
em busca de se manifestarem
em algum mundo real

a  noite diz sempre mais
que a própria escuridão

cai o véu de estrelas
no céu, mil coisas acontecem
na Terra nessa exatidão

Os ponteiros se perderam
no tic-tac do novo mundo
que surge quando chega a noite

vai embora o dia
a noite toma em mim
um lugar só seu em meu peito
onde o mundo é desfeito e
nada corre como deveria
nessa noite que é só minha...

Uriel Cordeiro
Minha poesia é o meu mar
trasborda da mão esquerda
inunda meu continente
a terra não é mais firme

o sol vai se apagando
aos poucos
Poeta se afogando
na própria imensidão

Minha poesia é o meu rio
que corre nas veias da inspiração
o sangue vivo de Vida
onde mergulho em busca de mais
me perco, me encontro
como num mergulho nas águas
do Rio das Almas

Poeta carrega sempre
um grande rio dentro de si
onde se joga, mergulha
afoga, renasce e segue.

Entre o continente
e o mar, corre o rio,
rio que liga a terra
com a água...

Corredeiras do meu peito.


Uriel Cordeiro

quarta-feira, 6 de junho de 2018

As avencas no muro


Querem me dizer algo
as avencas no muro
em um beco frio
num muro de perdas

Entre as pedras
brotam verdes
as avencas

Um grande muro
que dizia com sua presença
algo insondável pela mente
coração saltou do peito

O vento no beco
soprava as avencas
que iam mais longe
nesse grande muro
de perdas

o frio, o muro
as avencas...

Tudo isso dizia algo
maior que minha
compreensão.

As avencas no muro
diziam tantas coisas
que deixei de lado
o  interesse em entender...

Vivi um instante
como fosse uma avenca
num grande muro de pedras.


Uriel Cordeiro

quarta-feira, 9 de maio de 2018

É bonito de ver a dança da chuva
de baixo dos postes da rua,
parece que cada poste tem sua própria dançarina
que baila nas noites de frio e chuva...

Dançam com o vento
balançam as saias feitas de gotas de chuva,
piscam os olhos como os relâmpagos e
cantam feitos os trovões.

Dança, dança sob o poste da rua fúnebre,
dançam uma valsa 3 por 4
enquanto observo da sacada
a rua fria, a goteira rítmica,
o escorrer das águas.

Presente completo de todas
ocasiões
onde tudo que vale é a nossa
conexão e energia
pois o tempo é unidimensional
e todos os momentos estão em um só presente
que abrange passado, presente e futuro.

Basta ligar-se e crer para ver!


Uriel Cordeiro

sábado, 24 de março de 2018

Um canto pr'um Verso


Minha voz nesses papeis,
eu e o lápis, abajur.
Meu canto vem do inverso
dos ventos que sopram do Sul.

Um canto em meu peito,
onde o verso é desfeito
sopram as mágoas
do abajur, vento forte,
vento Sul...

Nesse encanto que soou
o meu canto falou: num canto
pr'um verso, vento forte, vento sou.

Sou o verso do inverso
do vento que aqui soprou.
O meu manifesto daquilo
que


Uriel Cordeiro, sou.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Estar vivo e reconhecer cada detalhe,
sentir como se fosse a última vez,
cada instante é o que da vida vale,
e será essa minha insensatez.

Eu estive sozinho com medo da morte,
pensando sempre em desdobrar o mundo
e ter a sorte, de viver eternamente como um poste
sem aceitar que o dia volta e a luz se apaga...

Dias a mais ou dias a menos? Viver é perder
ou viver é ganhar? Não passa tudo da ótica
de como a vida pode ser plena ou pode ser

CA

                         Ó

        TI

                                            CA

Estar vivo e reconhecer que a morte
é a eterna companheira e tudo o mais são coisas,
é a melhor das melhores sensações, só assim
para se dar valor a tudo que se tem
mesmo que tudo um dia morra
Graças a morte se tem a vida
graças a vida se tem as Graças.

E viver, por mais difícil que pareça,
ainda é de graça...


Uriel Cordeiro

domingo, 4 de fevereiro de 2018

No interior onde me criei
venho nele me criando
como as florestas, feito as espécies
como a Vida, a teia tece.

No meu Interior, no cerne do Ser,
corre o rio da mi'Alma, conturbado.
Lá no meu interior aprendi:
ser como as águas, sempre em movimento
vezes suja, vezes translucida, ora alta
ora baixa... Mas sempre à caminho do seu próprio Ser.

Vem do Interior as águas que hoje choro
está lá dentro da gente a velha parte
que nos desafia a viver e ser tal como o Mar.

Ó saudades de minhas Terras
as árvores são tortas, tal como é o meu destino.
Vão entortando os galhos da minha Vida,
vem queimada, vem ferida
vou contorcendo, como as árvores do Cerrado
sem desistir, resistindo até a última casca.

No interior encontrei os caminhos
que levam ao Interior do Ser.
Ser o que é, o que sente e pensa.

Enquanto isso, vou como as águas,
como os galhos, sempre em frente
contorcendo, resistindo e vivendo.


Uriel Cordeiro


Nos meus rascunhos eu chorei mais forte,
nesses versos prontos eu pensei demais.
Mas atrás do palco dessa poesia
senti o verso soltar-se de mim ao papel
como se fosse um corte e desesperado
escrevia para parar de cortar minha pele.

Nos rascunhos me despi, despedi,
desprendi de mim o sentimento
prendido, que me vestia a pele.
Troquei a carcaça...

Nos rascunhos você vai me encontrar
nu, desmunido, cru, vivo e sem tabus.

Nem mesmo os bons poemas
são tão poesia quanto os feios rascunhos.
Onde a poesia emerge, o Poeta cresce e a vida
recomeça, e os rascunhos vão se acumulando
na gaveta da esquerda.


Uriel Cordeiro