sábado, 13 de fevereiro de 2016

O ralo

Num banho desses longos
água fria em meu corpo
que se desmancha em cada gota
desfigurando o Meu rosto
Certo instante o ralo despertou
sussurrou meu nome
Transbordou a água que por ali
escorria
Me chamou.
A água ia cobrindo meu pé
a voz do ralo, leve, mas incessante
chamava-me.

O ralo me chamou
para morar em seu interior
para descer no seu rio de canos
onde as encostas são feitas da sujeira,
da nossa própria sujeira
aquela da qual nos livramos...

A água subia, feito tromba d'água
de tão rápido... Ou o tempo estava
desconfigurado pra mim.
Mas subia e queria me transformar
em líquido, para viver no ralo.

O ralo é frio, escuro, sujo
esconde a parte que não
aceitamos.

Ora, ora... Todos temos
um pouco de ralo
é raro aceitarmos o nosso ralo
aquele pequeno buraco n'Alma
onde derramamos a parte que
não queremos de nós mesmos
Por isso, nessa encarnação
haverá sempre um lugar ''menos limpo''
em cada um de nós.

O meu ralo me chama, não sei se quero
morar lá...


Uriel Cordeiro

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